Já quando era
criança, eu sabia que tinha "algo estranho" ao ficar vendo revistas
pornôs com coleguinhas de classe. Eu sabia que esse “algo estranho” era que eu
gostava de garotos e não de garotas.
Quando era
adolescente me converti, por influência da minha família, mas nunca tive a
homossexualidade como um problema, encarava isso de uma maneira bem
tranqüila.Tive uma vida de adolescente comum, tinha minhas escapulidas sexuais
mesmo sendo menor de idade e isto sem contar a pornografia.
A questão sexual
nunca tinha me incomodado até então. Mas depois de um tempo na igreja onde
desempenhava várias funções, um dia o pastor me chamou e disse que estava sendo
incomodado por Deus para me dizer algo, por mais que isso não tivesse muito
sentido.
Ele me contou a
história dele e seu envolvimento quando criança com homossexualidade (apesar
dele nunca ter praticado por ter nascido em lar cristão) e como superou isso.
De imediato, acabei ignorando. Não ia me abrir com meu pastor porque tinha medo
de perder minhas funções e coisas assim, mas após um período de conversa e
confiança, resolvi me abrir.
Ele é um cara
adorável e sei que fez o melhor que pode por mim, mas ele não tinha muita
informação na época e me prometeu uma transformação em que eu acreditei e
aceitei. Depois de um tempo ele já não sabia o que fazer comigo, já que as
coisas não estavam funcionando como o esperado. Então me encaminhou para grupos
de auxílio cristão gays, onde me ensinaram a ter paciência e esperar que
os sentimentos passassem.
Gosto muito do
pastor em questão, agradeço suas orações e a semente que ele plantou no meu
coração, assim como o carinho e ensinamento que recebi onde fui procurar ajuda;
porém, isso não estava resolvendo muita coisa na época.
Nesse tempo, tínhamos
conversas e fazíamos orações diárias, assim como confissão pecados e outras
práticas e nessa mesma época tive acesso a um livro de Helminiak, que acabei
levando e entregando ao meu pastor.
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Foi a primeira
vez que tinha ouvido falar em “teologia inclusiva” e igrejas cristãs dirigidas
e direcionadas ao público gay. É claro que isso me deixou muito confuso
e, ao procurar o meu pastor, descobri que ele não tinha uma resposta para todas
essas ideologias.
Resolvi aderir à
teologia inclusiva e caminhar em paz com Deus e com minha sexualidade; acabei
arrumando um namorado na época e seguíamos bem.
Estudando um
pouco mais a teologia inclusiva de uma maneira imparcial, comecei a ver algumas
“coisas estranhas”, parecia que nem tudo fazia sentido, nem tudo era apenas um
lindo arco-íris. Achava tudo muito fantástico e queria muito que fosse real,
seria perfeito pra mim. Mas vi que havia mais algumas coisas a serem
consideradas além de Helminiak e seus belos estudos. Comecei a conhecer outros
escritores e textos e, com ajuda de tradutores online, dava pra ler
algumas coisas, já que no Brasil nem havia tanta coisa na época.
Enfim, vi
algumas divergências em sua teologia e não consegui aceitar como algo firme.
Vale a pena ressaltar que isso era uma visão minha já que tinha largado a
igreja na época que comecei a namorar. Não engoli a teologia inclusiva e acabei
me afastando da igreja.
Eu tinha quase
18 anos, a idade já é confusa por natureza e, com tudo isso na cabeça, acabei
me afundando aos poucos. Não me sentia amado e nem aceito por Deus; então,
continuei tentando mudar de todas as maneiras possíveis e imagináveis. Não
obtendo resultado, cheguei até a tentativas de suicídio, já que eu realmente me
odiava com todas as forças.
Será que Deus
queria isso? Claro que não. É por isso defendo tanto o amor de Deus; sei o quão
ruim é não se sentir amado por Deus por uma questão sexual.
Caí em
depressão, larguei trabalho e escola. Fiquei um tempo preso em meu quarto, já
não tinha mais amigos e nem familiares; contei pra minha família, e meu irmão,
que era pastor, na época, começou uma campanha de exorcismo e outras práticas
que também não fizeram muito efeito. Na época eu pensava: “já que Deus virou as
costas pra mim porque eu sou gay, irei virar as costas pra Ele também e
seguir minha vida.”.
A maneira que achei para resolver o sentimento de culpa foi “matar Deus”
dentro de mim; não tinha uma vida legal e nem grandes experiências
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com Deus, visto que nem seu amor incondicional eu
aceitava. Acabei me envolvendo com ocultismo, a começar por Wicca, Satanismo e
terminando em Satanismo Moderno, do qual participei por um curto período.
Graças a Deus tudo isso não durou muito tempo. Foi um momento mesmo apenas para
me afastar de vez de Deus.
Para quem
conhece o Satanismo, sabe que o Satanismo Moderno é muito próximo do ateísmo.
Assim sendo, para manter as aparências, me identificava como ateu, filosofia
que acabei aceitando um tempo depois.
Realmente não
acreditava em Deus, “matei Deus” em mim e assim resolvi minha vida sexual e meu
sentimento de culpa.
Nos anos
seguintes experimentei a homossexualidade de uma maneira maior, mantive bons
relacionamentos estáveis, o que me levou a sair de casa para construir algo ao
lado do meu namorado na época. Em geral, as pessoas associam homossexualidade à
promiscuidade, drogas, doenças e orgias e esse lado realmente existe (assim
como na heterossexualidade), mas não foi a vida pela qual optei.
Eu vivi o que
chamam hoje de “homoafetividade”, tive bons namorados e estava bem e feliz com
esses relacionamentos. Se eu falar que amei todos os meus parceiros, estarei
mentindo, mas tive sim ótimos relacionamentos baseados em amor e alguns desses
namoros se tornaram grandes amizades.
Nesse tempo
minha vida melhorou muito. Estava com uma vida financeira estável, em paz comigo
mesmo, com família e amigos, não tinha nenhum motivo para querer ou pensar em
uma mudança; parecia mesmo que toda aquela fase confusa tinha ficado para trás.
Certo dia,
comecei a ser incomodado por algo que só mais tarde fui descobrir que era Deus.
Eu ouvia algo me dizendo que “estava na hora" e tinha um sentimento muito
forte como se eu realmente estivesse “perdendo algo”, não sei explicar muito
bem. Era como se lembrar de que tem algo para fazer, mas não se lembrar
exatamente do quê. Algo estava realmente me incomodando, mas não de uma forma
ruim, porém insistente. Cheguei inclusive a ouvir este “Está na hora” de uma
maneira muito clara. Para muitos, ouvir vozes é loucura, mas pra mim foi o
começo de uma nova história.
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Apesar de não crer em Deus na época, tinha um lado
místico que simpatizava com algumas ideologias, apesar de não acreditar e nem
praticar nada.
Esse “Algo” começou a ficar cada dia mais forte, então
eu achei que só poderia ser algo espiritual, um convite, alguma coisa assim.
Resolvi conferir se era mesmo algo espiritual. Não fiz nenhuma oração ou algo
do gênero, apenas soltei ao vento algo parecido com isso: “Não sei o que está
acontecendo, mas se for um convite espiritual, então pare, e eu irei responder
esse convite.”.
Deu certo. Comecei a não mais ser “incomodado” e tinha
uma promessa a cumprir, procurar algum plano espiritual. Não sabia o que fazer,
por mais que fosse adepto de diversas filosofias sem acreditar verdadeiramente
em nenhuma; então resolvi ir numa igreja cristã, pelo menos era o que mais
fazia sentido.
Ao chegar à igreja, não pretendia fazer orações e
muito menos prestar atenção; estava indo apenas pra me livrar disso, porém, foi
incrível o derramar do amor de Deus sobre a minha vida. Naquele dia que ainda
está na memória, recebi o amor de Deus de uma maneira muito forte e
incondicional. Resolvi que iria novamente caminhar com Deus, pois ele me amava
independente de qualquer coisa.
A principio,
arrumei encrenca com meu namorado, morávamos juntos há alguns anos na época e
partilhávamos de uma boa relação com base em amor e fidelidade. Ele acabou indo
visitar a igreja, rendeu-se a Cristo e começamos uma caminhada com Deus;
fazíamos algumas coisas juntos, como, por exemplo, orar, ler a Bíblia, assistir
aos cultos, participar de eventos na igreja e etc.
Estava bem comigo, estava bem com Deus, estava bem com
o meu parceiro, não queria abrir mão disso, não queria nenhum tipo de
sofrimento, não queria abrir mão de nada, simplesmente estava bem e confortável
assim. Então Deus foi restaurando várias coisas na minha vida e deixando a
sexualidade guardada. Não me sentia incomodado com minha sexualidade como
anteriormente, visto que sabia do amor incondicional de Deus por mim.
Um dia tive a seguinte visão: “Havia um ninho com
vários ratos e um pássaro no meio deles, mas o pássaro parecia um rato, agia e
vivia como um rato, e Deus me dizia que eu era um pássaro que aprendeu a ser
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rato, mas que Ele tinha asas para que eu pudesse voar,
Ele queria me ensinar a ser um pássaro.”
Logo associei a ilustração com minha sexualidade,
apesar de ser muito cético em relação a uma mudança, afinal de contas já tinha
tentado de tudo, com todas minhas forças e nada tinha dado certo. Acabei
deixando essa ideia sobre mudança de lado e segui em frente.
Conforme ia me aproximando de Deus fui conhecendo mais
sobre Ele, experimentando mais do Seu Amor. Estava cada vez mais apaixonado por
Deus e queria responder a esse amor com uma vida santa, não só em questão
sexual, eu queria realmente uma vida em santidade. Optei mais uma vez em dizer
não para a homossexualidade e, com muito sofrimento e dor, acabei me separando.
Apesar de ter tido algumas idas e voltas, fui me firmando e sustentando a minha
posição.
Retomei estudos, o domínio de vontades, fui buscar
ajuda e participar de atividades relacionadas com o tema. Caí novamente em
depressão e mais uma vez o pensamento de suicídio estava em minha mente. Diante
do fracasso, vi que estava muito infeliz e sabia que isso não era o que Deus
queria pra mim, ou, se era, pelo menos não deveria ser daquela maneira.
Nesse meio tempo fui aconselhado a me afastar de todos
os meus amigos gays, uma pena porque acabei perdendo contato de verdade
com algumas pessoas. O que eu tinha esquecido é que não tinha outros amigos,
senão aqueles. Por causa disso fiquei muito carente, o que se tornou uma ótima
válvula para sexo sem compromisso.
Costumo dizer que tive uma boa vida e não tive
problemas com homossexualidade, os problemas vieram depois, quando optei por
dizer não.
Fui a uma igreja inclusiva em SP na companhia de um
rapaz que conheci na igreja que frequentava e fiquei seriamente confuso no dia;
não fazia sentido. Era outra realidade que pra mim parecia boa. Resolvi aderi,
então, à teologia inclusiva (mais uma vez), mesmo sem mudar de igreja, já que
não tinha problemas onde congregava.
Resolvi estudar
um pouco melhor a teologia inclusiva, afinal, não é simplesmente porque igrejas
ou pessoas dizem que algo é verdadeiro que
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devemos aceitar
como tal. Não gosto de ser manipulado, prefiro pensar por mim, prefiro ter as
minhas próprias conclusões.
Mais uma vez
encontrei uma manipulação de informações para uso próprio, o que me fez voltar
mais uma vez para o mesmo lugar: a necessidade de mudança. Tentei uma troca com
Deus, por mais que não considerasse isso uma barganha. Eu deixaria o pecado em
troca de uma mudança de vida, coisa que não aconteceu, pois eu larguei o
pecado, mas não obtive uma mudança. Estava frustrado, decepcionado com Deus,
parecia que o Deus Fiel tinha quebrado a sua aliança comigo, fiz a minha parte,
estava dizendo não para a homossexualidade com todas as minhas forças, mas não
via mudanças.
Pensei
mais uma vez
em largar tudo
isso, largar minha
vida com
Deus, afinal era muito “bem resolvido” antes de toda
essa loucura e confusão, mas dessa vez era diferente. Eu tinha experimentado do
Seu Amor, sabia que Ele me amava e o quanto isso era bom, não conseguia mais
ignorar tão grande Amor. Não queria abandonar Deus. Eu O amava, mas mesmo assim
como não via "esperança” para mim. Grande dilema!
Resolvi então
não me preocupar mais com mudança. O Amor de Deus me completava de verdade,
ainda que fosse ficar só pelo resto da vida. Tudo bem, não me importava mais a
mudança, mas viver com Ele. Essa realidade mudou meu foco e me deu uma nova
motivação e uma nova atitude, já não me preocupava mais com o meu futuro;
estava bem em um presente com Deus.
Acabei
desistindo de buscar mudanças e optei pelo celibato, nesse período aprendi boas
virtudes em ser solteiro. Fui fazendo novas amizades e aprendendo novas formas
de estar de bem comigo mesmo. O que eu esperava de mim? Morrer velho e solteiro
com desejos homossexuais controlados e muito feliz.
Mas muita coisa
começou a mudar, Deus foi tratando de diversas áreas na minha vida. Foi
trabalhando meu relacionamento com Ele, com família e amigos, comigo mesmo,
estar em paz comigo e com minha autoimagem, entre diversas outras coisas.
Houve um tempo que na área sexual era apenas Eu e Deus no Divã, e
garanto que aprendi muito com isso.
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Depois de um
tempo, sem uma explicação que eu possa dar, começou a despertar em mim um
interesse físico por mulheres, coisa que não tinha e nem imaginava ter. Comecei
a perceber algumas diferenças na maneira de me relacionar e viver. Ao mesmo
tempo, fui resolvendo meus problemas com pornografia, apesar da vontade na
época, já não via mais a necessidade de praticar, e aos poucos foi passando o
vício e a vontade.
Como estava
resolvendo meu lado afetivo e físico por mulheres, comecei a achar que o
celibato já não era mais a única opção pra mim. Apesar de ter resolvido o
problemas com quedas, ainda não estava muito seguro e preferi não me envolver,
não era justo machucar alguém. Não me achava pronto e não me sentia capaz de
satisfazer uma companheira.
Fui trabalhando
os buracos na minha masculinidade e aos poucos vendo grandes mudanças. Para
fechar a história, hoje (final de 2010) estou me preparando para o casamento
com uma garota que amo muito e me completa.
Não quero com
esse relato passar a impressão que restauração sexual é algo lindo, fácil e
maravilhoso, mas sim que é algo possível e acessível. Não quero com esse relato
incentivar pessoas a tal prática e nem manipular ideias; que cada um resolva a
sua situação sexual com Deus, o Criador da sexualidade.
Muitos criticam
meu futuro, como se fosse incerto e costumo dizer que quem tem medo do futuro,
não está bem resolvido no presente e não aprendeu com os erros do passado. Não
me preocupo com a incerteza do futuro, sei que nada me separa do Seu Amor.
Cada pessoa tem sua história, tem sua vida, essa é um pedaço da minha e,
até aqui, valeu muito a pena dizer sim para o chamado de Deus.
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